Tuesday, June 06, 2006

A Alma dum País

O conceito de “alma dum país”, do modo em que o apresento aqui, e’ um conceito pessoal, tratando-se apenas de uma forma metaforica de descrever o que sinto (ou nao), num primeiro contacto com um país ou com uma cultura ate’ ai’ desconhecidos.
Talvez seja um exagero da minha parte afirmar que um determinado país nao tenha alma, pois se e’ habitado por seres humanos e por definicao, esses de certeza possuem-a.
Quando afirmei que a Australia e’ um pais sem alma, obviamente nao me referia ‘a alma individual de cada cidadao, mas ao que sentia em contacto com o “todo”.
Descrevo-o este "todo", de forma empírica, como uma especie de energia libertada e pressentida em contacto directo com um espaco e as pessoas que ocupam esse espaco bem como os seus comportamentos, habitos, costumes, rituais, etc... E' o que se sente quando em contacto com uma cultura que teve uma evolucao natural de muitos seculos e milenios, comum a concidadaos que ocupam um determinado territorio.
O impacto deste “todo” na minha pessoa, ou seja o processo de interaccao entre a minha pessoa e esse país, permite-me detectar, sentir e de certa forma "medir" a alma desse país. Considero que quanto maior for esse impacto, mais rica e densa e’ a alma desse país.
Um país com muitos seculos de historia, como uma cultura fortemente enraizada, definida e estampada por dentro e por fora, na architectura, no dna das pessoas, na forma de se comportarem, de comunicarem, de viverem, de se correlacionarem, de celebrarem a vida, etc, tem ‘a partida uma alma, a qual nao podera’ passar despercebida a qualquer forasteiro de passagem.
Por outro lado, e para regressar ao exemplo concreto da Australia, trata-se dum país onde o desenvolvimento natural do seu povo nativo, os chamados aborigines, cuja presenca no territorio data de um periodo de ha’ cerca de 30 a 40 mil anos, foi abruptamente interrompido, e mesmo erradicado com a chegada dos colonos em Janeiro de 1788, dai' resultando o desaparecimento da alma nativa.
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Os ingleses imposeram a sua forca e modos de vida e a pouco e pouco foram destruindo um povo e cultura de milhares de seculos. Desta forma, foram destruindo a alma natural desse territorio.
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Recriaram artificialmente, a alma que traziam e por caracteristicas intrinsecas ‘a sua cultura, marcaram a paisagem com formas (apenas visiveis das fundacoes da cultura que carregavam nas bagagens. Como processo artificial que foi, e de tao curto tempo que teve ate’ ao presente, o que se ve hoje da cultura anglo-saxónica, nao e’ o que se sente.
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Tal como os colonos recem-chegados apagaram a alma que encontraram, a distancia e o tempo tambem apagam as origens da alma que querem recriar no novo territorio, e o que se vai reproduzindo vai tomando caracteristicas proprias do novo mundo.
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Restam contudo os tracos visiveis e imitados da origem, contudo nao sao sentidos e por isso nao alimentam a actual alma local.
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As cidades transmitem a necessidade de relembrar as raizes da cultura que ocupou este territorio.
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Assim enfeita-se a cidade com as fundacoes da civilizacao occidental, criam-se altares aos fundadores da colonia e discretamente decoram-se com pequenas alusoes a quem la ja estava e nada tem a haver com o que la esta’.
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Conscientes de um mundo contemporaneo mais politicamente correcto, promovem de forma commercial mas em pequena e humilde escala, aquilo que encontraram e destruiram, a cultura aborinea.
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A Australia, um pais superficialmente lindo, de paisagens encantadoras, de gentes simpaticas e com uma optima qualidade de vida, para mim e’ um pais muito novo para revelar a sua nova alma que decerto se formara’ ao longo dos proximos seculos e milenios, caso este novo processo de formacao e crescimento nao seja outra vez artificialmente interrompido.
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Ate’ la’, no meio do conforto material e calor natural, sente-se um certo vazio e uma certa monotonia. Sente-se no tempo que separa, as sessoes de praia, os copos, as visitas a museus, os espetaculos, o vazio entre a alma que ja nao existe e aquela que ainda nao se formou,
Um vazio que so e’ temporariamente preenchida com paisagens deslumbrantes e contactos muito comtemporaneos!

Este texto e’ apenas uma refexao, do forma como senti a Australia. Nao tem qualquer base cientifica ou academica.
Se calhar, a boa disposicao e simplicidade com que os Australianos curtem a vida, a boa cerveja e bons vinhos sao suficientes para preencher a alma de muitas pessoas. A minha e’ que talvez seja um pouco exigente ou talvez esteja mal habituada por ser originaria do velho continente e de estar exposta a outras com milhares de anos de existencia.
De qualquer dos modos como iremos ver nos posts que se seguem, a Australia recomenda-se altamente para umas ferias, em particular se estiver a passar pela zona!


photos by Nic at Sydney, Australia - May 2006

6 comments:

Mafi said...

Sem alma grupal ou sem uma alma que se faça sentir a quem vem do velho continente? Realemnte com a experiência diferente desse povo duas almas tão díspares não se conjugam de forma próxima num primeiro contacto, não é?
Aguardam-se mais informações... :D

Maria Clarinda said...

Excelente visão do artigo, e adorei as fotos das estátuas, tenho paranoia por estátuas e seus detalhes.

t. said...

Muito bem escrito!

Nic said...

Mafi,
Nao e' bem ser dificil a integracao neste Mundo Novo, pois ate' cresci nele. A questao e' que a cultura dos individuos que la' residem, nao vai muito mais alem do aprenderam na escola... indepenmdentemente das suas origens, a partir da segunda geracao, bloqueiam e nao querem nada a haver com as culturas dos pais, criando um vazio enorme, porque a local so tem mesmo a haver com o quotidiano!
e' por isso!
:)

Nic said...

Maria Clarinda,
Obrigado pelo feedback.
Aqui vao mais estatuas para ti.
:)

Nic said...

t,
es muito simpatica. o conteudo ate' pode ser intertessante mas tenho mesmo algumas deficiencias na forma.
obrigado
:)