Vamos jantar a Kyoto

Depois da caminhada a explorar as ruas e ruelas de Kyoto, vamos ao jantar.
Hoje temos varias escolhas:


Um simples aperitivo, composto de tofu com molho de soja, bem regado com sake!


O tradicional sushi, caldo misu e cha' verde!


Noodles Japoneses com legumes, tofu e outras coisas nao identificadas.

E para algo de diferente, temos o KUSHI KATSU:
Talvez valha a pena falar um pouco desta opcao, ja que a refeicao teve algo de original e permite uma constante interaccao entre o cozinheiro e os clientes.
"Kushi" quer dizer pauzinho e "Katsu" quer dizer panado, ou seja sao pedacos de carnes, peixe, marisco ou legumes, panados num oleo vegetal servidos espetados em pauzinhos. O cliente senta-se 'a volta do balcao num ambiente quase familiar, sendo a comida preparada 'a sua frente.
Neste tipo de restaurantes nao ha ementa. Servem-nos de imediato a bebida (normalmente cerveja) e como aperitivo, uma taca de legumes crus. A mesa e' composta com um prato rectangular com 4 compartimentos contendo 4 temperos diferentes (da esquerda para a direita):
- molho de peixe com algas
- molho de worcester
- mistura de sal com pimenta preta
- limao

E logo depois comeca o ritual: a intervalos constantes de alguns minutos, o cozinheiro vai preparando com muito jeitinho, quase diria artisticamente, um panado de cada vez. Depois de o limpar e adornar o pedaco panado, coloca o pauzinho 'a nossa frente, anunciando pausadamente o ingrediente e o molho/tempero correspondente a utilizar. E assim entra-se num desfile de panadinhos anunciados sempre com dois nomes (imaginem uma voz muito suave, verbalizando sempre apenas duas palavras, o nome do ingrediente em tom ascendente e o nome do molho em tom descendente):




SALMON / LE-MANO SAU-CE
SHA-RIMP / WOR-CES-TERO SAU-CE
OCTAPOSSERO / WORCESTERO SAU-CE
...
coisa e tal - nao sei que SAU-CE
...
bla bla - qualquer coisa SAU-CE

Muitos pauzinhos e alguns cervejas (ja aqui disse que a cerveja japonesa e' mesmo muita boa) depois, eu ja' nem percebia o que era o ingrediente e muito menos percebia o molho adequado, mas discretamente, la' ia molhando naquele que me parecesse mais apropriado ou que tivesse mais a jeito de molhar.

Estava a achar tanta piada ao ritual e 'a musicalidade da lengalenga "nao-sei-que / SAU-CE" (quase hipnotizante) que me esqueci de que eles nao paravam de servir ate' o cliente dizer "chega".
E quando se diz "ja' chega", dizem sempre e' so' mais um:


Enfim uma divertida refeicao com constante interaccao entre o cliente e o cozinheiro.
A conversa tambem foi muito animada, pouco produtiva mas animada. Ficaram a saber que eu era de PORTUGAL e eu fiquei a chamar-me Figo ou talvez a refeicao soube-me a figos ou qualquer coisa assim parecida.


PS. Aquela cerveja e' realmente muito boa!

e quando a noite involve Kyoto...

photos by me @ Kyoto, Japan - Oct.2005

Tradição viva nas ruas de Kyoto

A forma como vemos o mundo e' condicionada por uma infinidade de factores. A mim, esses factores deixam-me viajar em varias dimensoes mesmo por vezes, sem arredar pe'.
Em Kyoto, o que via e sentia, levou-me em alguns instantes, ao mundo das Gueichas e dos Samurais. A tradicao viva e por vezes genuina, e'-nos transmitida atraves de olhares que nos involvem em misticismo e romantismo necessarios a tal viagem.
As imagens produzeem um efeito limitado, sao apenas momentos cristalizados. Falta-lhe a aura da descoberta, o trocar de enegias e a nostalgia do deixar ir. Nao chegam por si para nos fazer recuar no tempo, mas 'a falta de melhor, ficam aqui para nos dar um esboco daquilo que se pode sentir quando se viaja no tempo, no Japao:























photos by me @ Kyoto, Japan - Oct.2005

O prazer do engano

A decepcao paradoxal de encontrar uma magnifica obra de arquitectura pos-moderna, a receber-nos na cidade conhecida por ser um museu vivo do Japão tradicional, e’ atenuada pela beleza da obra.
A curiosidade em descobrir em cada promenor a estacao de caminhos de ferro de Kyoto, quase que nos faz esquecer o mundo das Gueichas e dos Samurais com que tinhamos vindo a sonhar e traz-nos de volta ao sec. XXI.

Quase rendidos, de mapa na mao, desafia-se os recomendados roteiros turisticos, e parte-se a pe’ ‘a descoberta de Kyoto dos dias de hoje.
Opta-se por caminhar para nordoeste da estacao, zonas supostamente residenciais, classificadas de “pouco interessante para turistas”. Deixa-se para traz as ruas mais largas e opta-se por entrar numa zona de ruelas e becos. ‘A medida que se vai penetrando neste labirinto, vamo-nos apercebendo de algo fantasticamente extraordiario. A arquitectura, o urbanismo e a paisagem, daquele espaco, leva-nos de facto a outra era. Realizamos que afinal a estacao de caminhos de ferro, nao era representativa do que iriamos encontrar em Kyoto e desta vez com um sorriso nos labios, sentimos o climax do prazer de nos termos enganado!
Afinal nao tinhamos chegado atrazados, Kyoto ainda esconde nos labirintos das ruelas, a tradicao e o passado.
Kyoto nao nos oferece de imediato esta viagem ao Japao doutros tempos, e’ necessario ir ‘a descoberta. Mas vale a pena, pois somos premiados com a doce recompensa de que quanto mais se procura, mais se mergulha no tal mundo com que antes tinhamos sonhado sentir - o das Gueichas e dos Samurais.
Fica aqui uma pequena amostra dum Kyoto preservadao naturalmente, o tal museu vivo do Japao tradicional:






photos by me @ Kyoto - Japan, Oct.2005