Saturday, July 31, 2004

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Poema de Pablo Nerura, emprestado do Resistente Existencial:

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda



free translation of Pablo Neruda's poem:

I can write the saddest poems tonight
Write, for example: “The night is bright with stars,
And far away, the blue asteroids twinkles”.
The night wind spins in the sky and sings.

I can write the saddest poems tonight,
I loved her and sometimes she also loved me.
In nights like this one, I had her in my arms.
I kissed her so many times under the infinite sky.

She loved me, sometimes I also loved her.
How could I not have loved her big motionless eyes.
I can write the saddest poems tonight,
Thinking that I don’t have her. Feeling that I already lost her.

Listening to the immense night, even more immense without her.
And the verse falls in the soul as the moist on the ground.
Who cares if my love couldn’t kept her,
The night is bright with stars and she is not with me.

That’s all. Far away somebody sings. Far away.
My soul doesn’t rest, how could I have lost her.
Like to reach for her, my sights seeks for her
My heart looks for her, she is not with me.

The same night whitenings the same trees,
Both of two, the ones from before, are no longer the same.
I no longer love her, it’s true, but I loved her immensely
This voice used the wind to call her attention.

Somebody else’s. It will be somebody else’s. The kisses as before they were mine.
The voice, the body of course. Her infinitive eyes.
I no longer love her, it’s true, but maybe I still love her.
Love is so short and forgetting it takes so long.

Because, in nights like this one, I had her in my arms,
My soul does not rest for loosing her.
Even if this is the last time she hurts me
And these are the last verses that I write her.

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