Um post interessante no blog do MVA, entitulado "O sonho da globalização (ou da blogalização?)" deu origem a varios comentarios entre os os quais, o do Luís Mendes.
O meu comentario ao post do MVA e nomeadamente ao do Luis continha a seguinte mensagem:
"A certa altura a lingua deixa de ser o elemento principal na comunicacao, adequirem-se tecnicas de comunicacao que se adaptam 'as diferentes culturas e faixas socio-profissionais.
Hoje consigo comunicar com certa facilidade em diversas culturas Asiaticas sem necessariamente saber falar. "
' a qual o Luís me enviou um e-mail com as estas perguntas:
"Gostava de conhecer melhor como fazes isto - que tipo de comunicação estabeleces sem usar a língua, com que fins se processa essa comunicação, como resolves o 'conflito' intercultural."
Como acho o assunto fascinante e bastante relevante 'a situacao do mundo de hoje, podendo assim interessar outros leitores deste espaco, decidi de elaborar uma resposta ao Luis e publica'-la aqui.
O texto a seguir e' baseado apenas em experiencias pessoais e nao sao teorias provadas.
Apenas o divulgo com a intensao de compartlilhar a minha experiencia pessoal de como aprender a gerir conflitos interculturais:
Honey Moon Period
Quando chegamos a um pais estrangeiro trazemos nas nossas bagagens as nossas crencas, padroes, valores, cultura, educacao, formacao, etc... Estas ‘pecas’ constituem o nosso paradigma ou seja a nossa forma propria e pessoal de ver o mundo.
Nessa altura achamos tudo diferente, ora estranho, ora exotico e iniciamos uma fase intensa de descoberta. Quase nos esquecemos daquilo que estavamos habituados e nao temos agora, pois entretemo-nos a descobrir a nova realidade.
Uma pessoa que viaje durante um curto espaco de tempo, em geral nao passara desta fase. A pessoa sentir-se-a excitada e utilizara expressoes do genero “Que lindo!”, “Que engracado!”, etc…
Adaptacao Resistente
Independentemente da nossa capacidade de adaptacao ao novo meio, o desconforto inerente a essa adaptacao sera quase inevitavel. Este desconforto e’ causado pelo processo de aprendizagem constante e intenso a que estamos sujeitos acrescido de uma ‘ressaca’ de nao termos ao dispor aquilo que estavamos habituados a ter: a comida, os locais, a informacao, a arquitectura, as pessoas os habitos e costumes, etc. Nessa altura descobrimos a importancia e o valor de pequenos pormenores que ate’ ai tinhamos desconsiderado. Sentimos a falta do ‘nosso mundo’ (comfortable zone).
A euforia inicial da descoberta comeca a ser a pouco e pouco, substituida por um desconforto causado pelo stress da adaptacao e pela saudade do ausente.
Da forma superficial com que olhavamos o que nos rodeia, comecamos a tomar mais atencao ao pormenor. Nesta fase, a nossa interpretacao do que nos rodeia ainda e’ condicionada pelo nosso paradigma (trazido nas nossas bagagens) e pelo nosso desconhecimento da realidade onde nos encontramos.
Comeca-se a notar imensas coisas que nos parecem, segundo a nossa logica, estranhas, sem sentido e ate irritantes.
Nesta fase os niveis de stress aumentam e tem-se uma grande tendencia a ver o lado negativo daquilo que nos rodeia, a critica e’ constante e a resistencia ‘a integracao e’ fortificada. Temos ainda muita tendencia a elogiar o que deixamos atraz e associamo-nos a tudo que seja representativo desse ‘nosso mundo’. A pessoa nesta fase, tem a tendencia de sentir-se pessimista e critica e utilizara expressoes do genero “Nao ha paciencia…”, “Que infantilidades”, etc…
Em casos extremos de inflexibilidade, ha’ pessoas que por natureza propria, agem assim mesmo durante uma viagem de curta duracao, nao tendo qualquer duvidas que o mundo delas e’ o certo e o que veem e’ diferente e portanto nao e’ o normal (para elas).
Outros, mesmo optando por fixarem residencia nesse pais estrangeiro, ficam-se por esta fase, procurando refugio em clubes e/ou ghettos das culturas com as quais se identificam, recriando ambientes semelhantes aos seus mundos, onde se reunem para se lamentarem da “anormalidade local”.
Esta atitude de adaptacao resistente podera ser passageira ou nao, podendo culminar na desistencia da pessoa que acabara por abandonar o sitio onde se encontra. Nestes casos podemos dizer que a compatibilidade (common ground) entre os dois (pessoa e meio ambiente) nao se estableceu!
Integracao
Situacoes extremamente opostas ‘a adaptacao resistente tambem poderam acontecer. A pessoa comeca a integrar-se no novo meio ambiente de tal forma que tudo lhe parece melhor do que aquilo que deixou atraz. Elogia constantemente o que aprende e critica o que deixou, chegando a ignorar ou tentar esquecer a sua cultura e adoptando a 100% os habitos e costumes do novo meio ambiente.
O ideal sera o meio termo ou seja, nao esquecer ou menosprezar a tal ‘bagagem’ que se trouxe e aprender a adquirir nova bagagem, podendo a nivel de formacao pessoal, dar e receber de ambos os lados, trabalhando-se assim para um enriquecimento pessoal e trazer algo de novo aonde se encontra.
Aculturacao
A aprendisagem da lingua, dos habitos, dos costumes, da cultura e o establecimento de novas amizades facilita a integracao. Quanto mais aprendemos melhor nos sabemos movimentar no novo espaco, maior e’ a nossa aceitacao e mais nos sentimos integrados, aceites e ate’ comecamos a ‘fazer parte’ da nova realidade. Comecamo-nos a “sentir em casa” no novo espaco.
As condicoes estao criadas para que o individuo inicie o processo de aculturacao e integracao plena no novo meio ambiente.
O processo de aculturacao e integracao da-se a uma velocidade exponencial e e’ infindavel, entreanto nao devemos nos esquecer que por muito que se aprenda ‘a cerca da nova cultura e se a interiorize, nao se pode comparar essa aculturacao ‘as marcas duma Historia vivida ou evidentemente ‘as marcas geneticas, passadas de geracao a geracao.
A partir duma dada altura atinge-se o equilibrio, ou seja este processo de aculturacao e integracao passa a fazer parte do nosso modo de vida quotidiano.
Com o passar do tempo, um individuo nestas condicoes, idealmente seria capaz de:
- no seu meio de origem, ter um comportamento caracterizado como nacional (nao visivelmente estrangeirado). Conseguir ver, interpretar e reagir ‘a realidade segundo os padroes da sua cultura;
- no novo meio, ter um comportamento compativel com as caracacteristicas locais onde o resultado da aculturacao passou a ser a sua cultura; Conseguir ver, interepretar e reagir ‘a realidade com os padroes da cultura local.
Disse idealmente porque na realidade, e’ extremamente dificil, se nao impossivel, auto-gerir o nosso comportamento de modo a se enquadrar nas caracteristicas acima referidas.
O individuo na realidade, evoluiu de forma distinta em relacao ao seu pais de origem e ao pais onde se encontra e por isso nunca podera se enquadrar na totalidade nas caracteristicas acima referidas.
Utilizando uma analogia simplificada de escala de cores, o nosso paradigma nao sera completamente “preto” em “territorio preto” ou “branco” em “territorio branco”, sera’ sempre “cinzento”, podendo no entanto a sua tonalidade ser ou nao ajustada ao espaco, tudo dependera da nossa capacidade de o fazer.
Para concluir, recomendo aos que se encontram expostos a outras culturas e estando inseridos num processo de aculturacao, de ter sempre em conta os dois lados por vezes distinctos: formas de pensar e de agir distintas (o preto e o branco), tentar calibrar as nossas reaccoes e aceitar as dos outros, consoante ao espaco onde onde nos encontramos;
Para responder directamente as perguntas do Luis:
“Gostava de conhecer melhor como fazes isto - que tipo de comunicação estabeleces sem usar a lingual”
O tipo de comunicao que utilizo como substituto 'a lingua, e’ designado, em ingles, pela expressao “body language”, o que e’ mais do que aquilo que em portugues se designa por linguagem gestual. Inclui formas de comportamento, expressoes faciais, sons emitidos para se exprimir ideias. Para simplificar a minha explicacao, imagine-se que eu me comporto como um cidadao local que apenas tem dificuldades em falar. O meu comportamento e sinais de comunicacao poem o receptor ‘a vontade fazendo-o sentir que esta’ com ‘um deles’.
Procuro calibrar o meu comporatamento, adaptando-o o melhor possivel ao ambiente que me rodeia. Quanto maior e aprofundado for o meu conhecimento do ambiente que me rodeia, melhores resultados serao conseguidos dessa adaptacao e claro mais eficaz sera a comunicacao.
Podera entao perguntar, e com razao: “se aprendeu bem os aspectos culturais, comportamneto, habitos e costumes locais, poque e’ que nao aprendeu a lingua?”
Ha’ linguas que custam mais a aprender do que o resto, para mim qualquer dialecto chines e’ um caso desses.
Posso ate’ acrescentar que o facto de ter desenvolvido naturalmente, uma “body language” eficaz e a falta de tempo sao barreiras de aprendizagem da lingua local. Nao tenho necessidade, logo nao invisto o tempo devido.
Nao quero isto dizer que pus de lado a aprendisagem da lingua local, esse processo embora mais demorado, continua paralelamente e integrado na minha aculturacao.
“com que fins se processa essa comunicação?”
Este tipo de comunicacao so se aplica em ambientes informais de necessidades basicas do dia a dia (compras, restaurantes, publico em geral).
“como resolves o 'conflito' intercultural?”
Como descrevi no meu texto acima, o conflito intercultural so’ existe na designada fase de “Adaptacao Resistente”, onde o “common ground” e’ minimo ou inexistente. Este conflito e’ devido ‘a incapacidade por inexperiencia ou desconhecimento da parte individuo que se tenta integrar num novo espaco cultural. Nao devemos nos esquecer que nao se pode mudar uma cultura ou esperar que essa cultura se adapte a um individuo. E’ esse individuo que tem de se adaptar ao que encontra, se assim o entender e querer.
O nivel de 'conflito' intercultural vaisse desvanecendo e acabara’ por desaparecer, ‘a medida que entramos nas fases de adaptacao e aculturacao.
No comments:
Post a Comment